domingo, 14 de setembro de 2008

Pesquisa mostra que pólo industrial contribui para preservar a floresta em Manaus

Nesta semana estive em Manaus, participando da Feira Internacional da Amazônia (FIAM), e pude perceber que a preocupação ambiental é uma constante tanto entre as empresas como nos discursos das autoridades.
Ainda que o Pólo Industrial de Manaus (PIM) tenha seus problemas a resolver, como a logística complexa e, mais recentemente, a possibilidade de esgotamento da capacidade energética, com o crescimento industrial, a questão ambiental parece bem cuidada.
No último dia do evento, inclusive, os organizadores da FIAM divulgaram uma pesquisa que mostra, pela primeira vez, que a existência do pólo industrial contribui para preservar a floresta.
O estudo mostra que, no período de 2000 a 2006, o valor das emissões de carbono evitadas chega a US$ 10 bilhões. Se considerados os serviços ambientais proporcionados pela preservação, o valor estimado é da ordem de US$ 158 bilhões nesse período.
O estudo foi feito por pesquisadores das Universidades Federais do Amazonas e Pará, do Instituto Piatam e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Financiado pela Nokia do Brasil, com investimento de R$ 600 mil, ele contou ainda com o apoio da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e teve os resultados atestados por pesquisadores dos Estados Unidos, Europa e América Latina.
No período de 2000 a 2006, a pesquisa mostra que a pressão sobre a floresta amazônica diminuiu entre 70% a 77%, em razão da existência do parque industrial de Manaus. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Amazonas conta atualmente com 98% da sua cobertura vegetal preservada.
Para medir o impacto do PIM na preservação da floresta, os pesquisadores utilizaram variáveis que podem influenciar ou não no desmatamento e analisaram seus impactos em mais de 400 municípios de toda a Região Norte. Entre as variáveis estão o impacto de atividades econômicas como a pecuária e a exploração madeireira, dados demográficos, a variação do Produto Interno Bruto (PIB) geral e per capita, a densidade de estradas, e os investimentos públicos realizados nestes municípios, sobretudo em educação.
Em uma segunda fase, os pesquisadores selecionaram as variáveis que indicaram maior índice de desmatamento e as aplicaram para medir o impacto do PIM no Amazonas. Nessa fase, foi incluída a análise dos incentivos econômicos associados ao pólo.
Para quantificar o valor da preservação proporcionada pela existência do PIM, os pesquisadores tomaram como referência valores de mercado e de pesquisas econômicas na área ambiental. No valor de mercado, foi calculada a economia gerada pela preservação ao evitar a emissão de carbono. As duas referências foram a bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, onde a tonelada de carbono é negociada a US$ 3, e a bolsa européia, com cotação de US$ 38 por tonelada de carbono. No total, a economia gerada entre 2000 e 2006 girou entre US$ 1 bilhão e US$ 10 bilhões.
A indústria instalada em Manaus pretende encaminhar a pesquisa ao governo do Estado e a parlamentares em Brasília para definir compensações pelo custo evitado do desmatamento, segundo José Alberto da Costa Machado, coordenador geral de estudos econômicos e empresariais da Suframa, no estudo divulgado à imprensa.
As empresas vão além e propõem, ainda, a transformação do PIM em Pólo Ecoindustrial de Manaus, o EcoPIM, e a criação de um selo ambiental. A concessão do selo seria feita às empresas que cumprissem com exigências de caráter ambiental e social, estabelecidas por meio de uma política voltada ao desenvolvimento sustentável. Para a implementação do selo, os pesquisadores sugerem que o estudo dos efeitos do PIM sobre a floresta amazônica deve passar por revisões periódicas. Não é uma boa idéia?

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